Uma mangueira não pode produzir figos, uvas, morangos ou bananas, mas, pensando bem, uma mangueira não precisa esforçar-se nem mesmo para produzir mangas. Nunca ouvi sobre uma árvore contraindo seu caule fazendo tremer os seus galhos para que aquelas florzinhas se transformem em frutos. A natureza é assim. O céu não precisa sorrir para que o sol apareça, as nuvens não carecem de tristeza para que chova, o vento independe de pressa para correr, a flor perfuma sem paixão, a terra treme sem stress ou pulgas.
Verdade que ele era um bonito rapaz. Nunca podemos dizer o contrário de alguém que tem 85% do seu círculo de conhecidas com essa mesma opinião. Sempre educado, gentil, divertido e muito, muito ansioso por encontrar sua “outra metade”. A cada novo rosto, se após uma rápida análise de cima abaixo, o perfil fosse considerado ao menos o mínimo satisfatório; ali estava uma nova oportunidade. Suas intenções o faziam ainda mais educado, gentil e divertido. Essa espécie de dança do acasalamento era uma isca que muitas mordiam, mas ele nunca as tirava do lago. Toda essa caça era o impulso da esperança de encontrar alguém especial, deveria haver alguém com quem uma agradável conversa ou um intenso silêncio traduziria em bons momentos juntos.
Ele não tinha um histórico de muita passividade em relação aos seus sentimentos e desejos, assim, atirava para todos os lados, até que, enfim, cansou de errar o alvo caindo exausto no sofá. Ao efeito de um profundo suspiro fez uma intrigante descoberta. Ela nunca havia saído da sua lista de amigas para a lista Possibilidades e, ainda assim, ele não era menos educado, gentil ou divertido com ela, só era ele mesmo, vivendo seus reais valores. Percebeu que, com muita probabilidade, a amava.
Resolveu impressioná-la. Não bastava somente dizer o que sentia, não era tão simples assim. Essa Síndrome de Príncipe Encantado pedia uma amostra hollywoodiana de seus sentimentos. A base de uma idéia - Não há nada que uma dançarina goste mais do que dançar. Conclusão desanimadora – Ele era o pior dançarino que já conheceu. No entanto, um probleminha como esse não poderia ser obstáculo para levar a cabo uma estratégia que julgava mostrar-se tão eficiente. Algumas dicas com a mãe, em busca do ponto de vista feminino, outras com o pai, pela experiência; alguns passos com aulas pela TV, outros com amigos e seguiu a ensaiar. Treinou cada detalhe; movimento dos pés, levantar a cabeça, mãos na cintura, olhos nos olhos e um e dois e três e quatro e um e dois… Após duas semanas, pouco êxito, seus pés não obedeciam, as mãos pareciam ter vontade própria e sempre perdia a contagem. Começou a pensar que um dançarino precisa nascer dançando, tinha que ter relação com essa questão de genes ou algo assim. Caiu exausto no sofá, depois de notar aquela dor que começava na coxa e se estendia até os pés, e antes de sussurrar a frase: “Nunca vou conseguir”, entendeu, repentinamente, que realmente não conseguiria se continuasse tentando sem música.
Por fim, basta soarem os instrumentos mais a sensibilidade para ouvir a voz de uma boa canção e um convite sincero aos encantos da pista de dança e poderemos terminar essa história com um belo casamento e lindos bebês engatinhando pela casa.
Quanto ao labutar da árvore por seus frutos, bem, ela só precisa estar plantada, nada mais que isto. Se o solo é realmente fértil, naturalmente, ela se alimenta da terra, e do sol, e do orvalho, e no devido tempo, se exibem seus frutos.
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