27.7.06

Alguém tem que se mexer!

O trabalho é garimpar nosso cristianismo, tirando as influências das outras cosmovisões, e deixar o ouro do Teísmo Bíblico, depois, responder como esses valores se aplicam à realidade de cada cultura. No Brasil, Maurício José Silva Cunha é um desses. Ele trabalha com a Rede Brasileira de Cosmovisão Cristã e Transformação Integral, e é sócio-fundador do CADI (Centro de Assistência e Desenvolvimento Integral). Fundado em 1994 em Fazenda Rio Grande – PR, o CADI implementa projetos de assistência comunitária, como o Centro de Treinamento de Futebol e a Escola de Educação Infantil, com a visão de desenvolver populações carentes integralmente, de acordo com uma perspectiva bíblica, trabalhando com indivíduos, famílias e comunidades. Ele concedeu a entrevista na sala da hospedagem da agência missionária Jovens Com Uma Missão em Contagem-MG, onde esteve palestrando.


NA - Nesta semana, você falou sobre Cosmovisão Bíblica, nossa identidade como igreja e a abordagem integral do evangelho a respeito da vida. Na prática, como podemos fazer pra implementar essa cosmovisão nas diversas esferas sociais e áreas de influência?

Maurício – Basicamente você transforma um padrão de cosmovisão através do ensino, do discipulado. Os princípios bíblicos abarcam a totalidade da vida, então cabe ao obreiro sábio definir seu chamado específico e buscar pra essa área os princípios de Deus que vão fundamentar uma ação missionária transformadora. Por exemplo, se eu sou um educador cristão, preciso saber o que significa ser um educador cristão à luz dos princípios da palavra de Deus. O que significa ensinar geografia ou matemática de modo que isso reflita a pessoa de Deus? Esse é um trabalho árduo. Eu não tenho uma resposta fácil, uma receita. No Brasil nós fundamos a Rede Brasileira de Cosmovisão Cristã e Transformação Integral. A rede é um conjunto de ministérios que estão trabalhando no sentido de formular propostas práticas sobre como aplicar a cosmovisão cristã nas diferentes áreas da sociedade. Há pessoas específicas que estão pensando na política, outros na educação, outros nas artes. O importante é sabermos que a verdade de Deus é aplicável em todas as áreas da vida e que nenhuma área escapa da redenção de Cristo. Agora, como aplicar isso vai depender da área de atuação e do contexto onde você está. O Importante é não termos a mentalidade de um missionário que só vai salvar almas, mas de alguém que busca o discipulado da nação.


NA - Depois de entendermos a verdade de Deus aplicada, por exemplo, à política, contextualizada com a realidade brasileira, como vocês vão articular, como Rede Brasileira de Cosmovisão Cristã, pra fazer a coisa acontecer?

Maurício – Uma coisa que estamos fazendo é produzindo material que vai servir como fundamento pra quem quer trabalhar nessa área, então em julho sai um livro sobre sobre cosmovisão cristã. Depois queremos produzir materiais pra direcionar quem vai trabalhar em diferentes áreas. Na área política, uma das propostas da rede, claro que a longo prazo, é ter uma articulação política mesmo, eleger pessoas que entendem o cristianismo como sistema total de vida e que queiram levar a cosmovisão cristã pra essa área. Não estou falando de proposta partidária, mas de aplicar a cosmovisão cristã no país e tudo o que isso implica. E assim para as outras áreas também. Na área de educação por exemplo, existem alguns ministérios que já estão trabalhando a visão bíblica da educação, como a AECEP (Associação de Escolas Cristãs de Educação por Princípios), a ACSI (Associação Internacional de Escolas Cristãs). Os ministérios começam a se especializar em diferentes áreas da sociedade aplicando os princípios de Deus para aquela área, o que já está acontecendo, e o objetivo da rede é agregar esses ministérios.


NA - Historicamente a igreja sempre esteve atrás do seu tempo. Talvez, quando terminarmos de entender como podemos ser resposta para o homem pós-moderno, outro sistema de crenças esteja em vigor. O que devemos fazer pra não ficarmos correndo atrás do prejuízo e passar a agir como vanguarda?

Maurício – Precisamos acabar com a corrente anti-intelectualista na igreja. É aquela mentalidade: “Ah, não pensa muito não, só creia”. O profeta da nação é um profeta que sabe o que está acontecendo na nação. Esse é um padrão bíblico. Ele conhece o pensamento mundano, conhece o pensamento de Deus e por isso ele pode fazer o confronto. Nós precisamos de pensadores cristãos, mas não a intelectualidade morta, a letra morta. A bíblia fala que os filhos de Issacar foram chamados pra fazer o tabernáculo porque eram conhecedores do seu tempo. Então o cristão sábio, que quer fazer uma diferença, tem que manter um diálogo crítico permanente com sua cultura, tem que discernir que linha de pensamento não vem de Deus. Historicamente nós não temos muito essa tradição por causa desse tipo de mentalidade de que a racionalidade não é importante ou é menos espiritual. Isso não é bíblico. Espero que estejamos formando no Brasil um grupo de pessoas que vão estar de fato na frente do seu tempo, podendo ter esse diálogo crítico com a cultura à luz das escrituras.



NA - A quem são direcionadas as ações pra que isso aconteça, pra toda a igreja ou o foco é a nova geração?

Maurício – Estamos procurando abraçar quem quer. Tem um grupo muito jóia da nova geração que não está mais contente com aquela coisa de ter que ser uma uma pessoa na igreja e outra pessoa na universidade. A esperança é que essa nova geração não vai ter uma mentalidade dicotômica, separando espiritual e secular, e que vai conseguir pensar como levar o cristianismo para a universidade, para a área profissional... Estamos entrando em uma geração que não se contenta mais com aquele avivamento sem propósito, aquela coisa com uma ênfase exagerada na experiência subjetiva. Chegamos em uma hora em que se perguntam: “Então tá! e agora?”.


NA - Qual a pior consequência dessa dicotomia?

Maurício – Nós temos corações salvos, mas mentes babilônicas, mentes confusas, sincretistas. Temos pouco conhecimento da verdade. Temos pessoas com experiências com Deus, eu acredito nisso, pessoas sinceras, mas que não entenderam o cristianismo como sistema total de vida, assim, não temos uma igreja que impacte a sociedade. Temos um monte de gente na igreja, mas ela é muito menos transformadora do que poderia ser. Temos muitas "almas" sendo salvas e isso é bom, mas não temos uma aplicação completa do cristianismo. Pra mim essa é a pior consequência da mente grega, você não permite que a verdade de Deus se manifeste integralmente, apenas uma parte, uma visão estreita das intenções de Deus para o ser-humano.

22.7.06

É coisa da nossa cabeça.

Sobre os 3 milhões reunidos na Marcha pra Jesus e a violência em São Paulo

Índice de divórcio; igual. Pobreza; igual. Depressão; igual. Foi essa a conclusão quando comparados os resultados de uma pesquisa que descreveu o perfil dos evangélicos brasileiros, realizada em 2004, com os dados do IBGE. Isso nos faz questionar algumas coisas. Se os nossos índices são iguais aos da sociedade em geral, que diferença pretendemos fazer? Quem realmente está influenciando e sendo influenciado? Estamos sendo pró-ativos ou passivos? Se não estamos somente na defesa, que relevância nossas ações tem tido? Sabemos realmente quem nós somos? Se o sal não salga, ele também apodrece?


O Brasil, hoje, é palco de uma acelerada multiplicação de denominações, de templos abarrotados, de presença evangélica nos grandes centros, nas periferias, nas zonas ruais e até nos sertões. Estamos em todos os lugares. Há uma bancada evangélica no Congresso Nacional, redes evangélicas de rádio e televisão, grandes editoras, associações e sindicatos de empresários cristãos, filósofos cristãos, educadores cristãos e um monte de outros [alguns deles, registro, fazem um trabalho consistente e relevante]. Seria igualmente preocupante, mas não tão alarmante, se nós estivéssemos crescendo, mantendo os valores que regem o cristianismo bíblico dentro do nosso gueto, mesmo que a sociedade continuasse a mesma [como se fosse possível]. Mas nós estamos crescendo, e nos mesmos moldes mentirosos que constroem a mentalidade daqueles que intitulamos ímpios e perdidos. Alguém vai ganhar a guerra das idéias. Não há empate.

Idéias tem consequências. A preleção da nossa cultura, os conceitos formados durante nossa história, o que acreditamos ser real e verdadeiro, certo e errado, bom e bonito, definem nossas opiniões acerca da nossa humanidade, propósito de vida, prioridades, classificação de valores, deveres, responsabilidades para com a família, interpretação da verdade, questões sociais, etc. Colocam o grau nas lentes que usamos para interpretar o universo ao redor. Chamamos essas lentes de COSMOVISÃO, e é com base nelas que fazemos nossas escolhas.


Cosmovisão:

Ninguém necessitava de um conhecimento histórico-científico sobre cadeiras. Quem as inventou, a evolução dos modelos, os materiais utilizados, as técnicas de feitio, a reação atômica do material quando nossa bunda descansa nos diferentes tipos de assentos. Nada disso era preciso. Qualquer um podia saber se uma cadeira era construída por um cristão ou não. Falo dos cristãos da época da Reforma que entenderam a Reforma. Quer saber se essa ou aquela cadeira, expostas logo ali, à venda, foi feita na marcenaria de um cristão? - alguém diria - Olhe a parte de baixo. Olhe naquele lado onde ninguém olha, a parte que fica escondida, os detalhes que ninguém vê. Se essas partes da cadeira foram construídas com a mesma qualidade e capricho das partes mais visíveis, então foi um cristão que a fez, pode comprar com tranquilidade.

Não estou dizendo que só os cristãos da reforma construíam cadeiras de qualidade, mas era muito mais provável que eles o fizessem. Porquê? Por causa da cosmovisão que a reforma trouxe sobre vocação [É com base na cosmovisão que fazemos nossas escolhas. Lembra?]. O homem percebeu que poderia glorificar a Deus não apenas como sacerdote, mas como sapateiro, professor, policial ou qualquer outra profissão exercida com diligência e honestidade. Essa mentalidade fazia parte dos nutrientes presentes no solo em que as raízes dos Estados Unidos foi plantada. Essa herança anglo-protestante mostra uma das razões da diferença entre o desenvolvimento e o subdesenvolvimento. A maneira como pensamos determina o que nos tornamos.


Como estão nossas lentes:

Alguém diria - “Mas construir uma cadeira, extrair um dente, tirar o lixo, aplicar provas, fazer o teste de matemática, lavar a louça; criar, aprovar e executar leis; escrever, dançar, atuar, pintar, pegar um cinema, namorar... Tudo isso é parte do mundo secular, o jovem precisa se preocupar mais com as 'coisas de Deus', com a 'obra de Deus', como os ensaios do grupo de louvor, as orações, intercessões, cultos, evangelismos, ceia, batismo, ler a Bíblia...” Inegavelmente, é esse o dualismo que vivemos. Aquilo que é secular não tem muito a ver com os interesses de Deus, porque ele se preocupa é com as “almas”. Assim, fazemos como o doutor Frankenstein, que criou um corpo de corpos mutilados, que andava e falava, mas estava meio vivo, meio morto. Como diz a canção: “ Enquanto o domingo ainda for nosso dia sagrado [...], não tem jeito não”[1].

Nosso Teísmo é uma mistura de uma teologia esclerosada [2], com as outras duas outras grandes cosmovisões. Somos Animistas, quando adorar significa se emocionar, quando lutamos pela destruição de bastiões do inferno, fazendo de todo problema resultado da ação de satanás ou de maldições, quando fazemos “batalhas de oração” repreendendo a corrupção no governo, e não fazemos nada pelo governo além disso, quando evangelizar é ganhar as “almas”, quando suprimimos a razão para dar lugar a fé, quando dizemos que o homem só está aqui em espera pelo paraíso. Somos Humanistas, quando pensamos que nosso único dever com relação ao dinheiro é dar o dízimo e quando nossas decisões são determinadas pelo muro financeiro, quando todo problema é simplesmente uma questão circunstancial e física, quando achamos que o Serviço de Atendimento ao Consumidor não tem nada a ver com Deus, quando igreja e negócios são negócios à parte, quando, para usar a razão, suprimimos a fé.


Evangelho integral:

“Ele é a cabeça do corpo [...], porque foi do agrado de Deus que nele habitasse toda a plenitude, e por meio dele reconciliasse consigo TODAS AS COISAS, tanto as que estão na terra quanto as que estão no céu, estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na cruz”[3]. O cristianismo é um sistema total de vida e pensamento. O único capaz de abarcar toda a vida de uma forma perfeitamente inteligível e lógica.

O cristianismo da Reforma estabeleceu um novo conceito da relação do cristão com o mundo. A visão medieval do universo olhava para o mundo como inerentemente mau e tudo precisava ser cristianizado para que pudesse ter real valor. Os poderes políticos, a ciência, as artes e qualquer outra manifestação cultural — tudo devia dobrar-se diante do poder da igreja. Essa mentalidade criou um mundo “gospel” paralelo, uma contra-cultura.

“Os reformadores não foram ingênuos em sua concepção do mundo: a queda afetou a harmonia cósmica, o mundo decaído “jaz no maligno” e o cristão deve empreender uma luta ferrenha contra o mundo, a carne e o diabo. Apesar disso, o mundo é criação de Deus, e ele o sustenta e preserva”[4]. Nós afirmamos que tudo é intrinsecamente bom, pois há uma verdade sobre todas as coisas. Assim, o mundo não precisa de evangelicaismos. Tudo pode apontar para a pessoa de Deus, e como ele mesmo fez, promovendo justiça e transformação. Nós somos completamente cristãos, à todo momento, todos os dias da semana e em tudo quanto fazemos. “Não há um milímetro cúbico em todas as áreas da existência humana sobre o qual Cristo, que é Soberano e acima de todos, não possa dizer ‘É meu!’ ”[5].

Temos que assumir nosso papel e começar a dar nomes aos animais. Nós é que criamos a história, não somos suas vítimas. Deus tem algo a dizer sobre a política, sobre a educação, saúde, artes, entretenimento, sobre família, relacionamentos, trabalho, sobre dinheiro, sobre o papel do homem, o valor da mulher, sobre negócios... O evangelho integral redime a cultura.

Se temos uma mente dualista, vamos gerar discípulos com a mesma mentalidade. É nossa escolha vivermos um cristianismo alienado do mundo, um cristianismo conformado com o mundo ou um cristianismo que impacta o mundo, no mundo, mas não do mundo.

Não acho que seja vantagem esperarmos para descobrir se o sal insípido apodrece ou não.

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[1]Em nome da Justiça (João Alexandre)

[2]Esclerose - Doença do Sistema Nervoso Central, lentamente progressiva, que se caracteriza por placas disseminadas de desmielinização (perda da substância - mielina - que envolve os nervos) no crânio e medula espinhal, dando lugar a sintomas e sinais neurológicos sumamente variados e múltiplos, às vezes com remissões, outras com exacerbações.

[3]Colossensses 1:18-20, Tradução NVI.

[4]Misael Nascimento, “A Reforma, O Cristianismo e a Cultura”, http://www.ejesus.com.br/home/exibir.asp?arquivo=5554.

[5] Kuyper, Abraham, Abraham Kuyper: A Centennial Reader, ed. James D. Bratt (Grand Rapids, Mich.: Eerdmans, 1998), 488.

14.7.06

"O sonho agora é real"

"Vamos consertar o mundo
Vamos começar lavando os pratos
Nos ajudar uns aos outros
Me deixe amarrar os seus sapatos

Vamos acabar com a dor
E arrumar os discos numa prateleira
Vamos viver só de amor
Que o aluguel vence na terça-feira

O sonho agora é real
E a chuva cai por uma fresta no telhado
Por onde também passa o sol
Hoje é dia de super mercado

Vamos viver só de amor
Vamos viver só de amor
Vamos viver só de amor"
["Vamos Viver". Composição: Indisponível. Já interpretada por Sandra de Sá e por Herbert Viana]

10.7.06

O ponto de vista...

...muda a perspectiva.


4.7.06

Antitype

"Even though you've been raised as a human being you're not one of them. They can be a great people, Kal-El. They wish to be. They only lack the light to show the way. For this reason above all - their capacity for good - I have sent them you... my only son." - Jor-El.


"The world doesn’t need a savior, and neither do I." - Louis Lane.

"But everyday I hear people crying out for one" - Superman.
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