Tolerância zero! É o que dizia um dos personagens do saudoso comediante Francisco Milani, frente a uma afirmação ou questionamento óbvio. Sarcasmo merecido para quem insiste em repetir jargões ignorando significados, por simplesmente não ter algo realmente significativo para dizer, ou pela burrice impregnada de cotidiano instintivo e irracional. Difícil tolerar, mesmo expressões clássicas, como por exemplo – Oi, você por aqui? – Resposta – Não, este é um holograma programado para entregar-lhe a mensagem de que, a esta altura, já estou no céu e gostaria da sua companhia, portanto, este holograma vai explodir assim que eu termine de pronunciar o último fonema das palavras Tolerância Zero!
Como não me importo com a vergonha de ser considerado um pecador segundo os padrões judaico-cristãos, atrevi-me a sentenciar o evangelista bíblico Mateus com a mesma intolerância, por ser desatento o bastante para escrever a tolice dessa sentença - “E Jesus, abrindo a boca, disse…”. Tentei negar que o original grego traz a mesma linha. Se não estiver no original, pensei, então quem foi o insano que inseriu tal imbecilidade na Bíblia? Você pode pensar que estava sendo demasiadamente radical e que este é só um detalhe, e você tem razão, foi um detalhe que idiotizou o texto, tirou-me toda vontade e expectativa de seguir lendo. De um homen com tantos recursos como Mateus, esperava um pouco mais de senso. Entendo que ele não era um escritor, mas isso não era desculpa para usar de tanta obviedade, como se eu fosse tão burro a ponto de não saber que para alguém falar algo, especialmente para uma multidão, é preciso abrir bem a boca. Sinceramente, não acreditei que ele tivesse feito isso comigo, mesmo depois de reler a mesma bendita frase quatro vezes. Nesse ponto, comecei a questionar a própria inspiração divina atribuida ao sacro livro. Mesmo que Deus tenha feito isso por uma dose de humor, entraria no seu jogo, e com o mesmo sarcasmo que me ensinou a porcaria daquele programa, diria Tolerância Zero para o Inspirador.
Antes de entregar-me à derrota pela indignação e acabar fechando as escrituras, parei um momento e pensei no protagonista, pensei nos fatos, nas histórias, nos momentos. Foi assim que dei-me conta de que para as maiores mensagens, Jesus realmente não precisou das palavras, ele falou com o toque, o sorriso, o olhar...
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