31.5.06

A Despedida

Lugar Desconhecido, 31 de Maio de 7082, Calendário de Campos Gramados.

Saudações Risada-Mais-Gostosa,

Perdão pelo domingo. Estava no caminho para te buscar quando recebi notícias do Leste e precisei cavalgar, rápido, para além dos limites de Campos Gramados. Deixei uma carta com o Sr. Olhar-Que-Escuta-O-Vento, caso tenha ido à casa da Dona Flora sem mim. Se a recebeu, sabe porque fui embora, se não, peço que dirija seus rogos para Acima dos Céus ao meu favor, mas atenho-me a dizer-lhe aqui como foi minha partida.

Era meu primeiro encontro com este a quem se inclinou o doce coração de pólem da nossa amada amiga [e nosso último até aqui]. Ele sabia meu nome, e também conhecia o seu, talvez Dona Flora tenha mencionado, ou talvez ele possa mesmo entender os ventos. Perguntou-me se eu havia escrito algo a respeito do meu retorno na carta, eu disse um "sim", curioso com a pergunta. O vento sopra onde quer, meu amigo - Começou em tom preocupado - Se você escolhe segui-los, nem os desejos o controla. Mas há como aprender a fazer, desde a mais leve brisa até do mais forte tornado, aliados, em um tratado onde você respeita os caminhos do vento e ele considera os seus. E não me refiro aos "seus" como sendo somente você - Terminou com um leve sorriso, como quem queria dizer que eu sabia a quem ele se referia - Entregarei a carta se Linda-Princesa-E-Desejo-Dos-Seus-Olhos aparecer por aqui - Foi assim que se referiu a você, como se pudesse ver além do que eu mesmo entendo.
Ainda pensativo, respondi com um “Muito Obrigado” e virei-me para seguir jornada. Dona Flora saiu para se despedir com uma cesta adornada com flores, cheia de Bolinhos de Mel e Pães de Girassol - Provisões para a viagem - Disse ela, sorrindo como só mesmo ela e você sabem sorrir - Adeus Filho-De-Todo-Verde.

Virei-me com muita gratidão, ciente de que as provisões de Dona Flora durariam apenas os dois primeiros dias de cavalgada. Sai pensativo, caminhando e puxando meu cavalo, imaginando se toda essa história dos ventos, algum dia, possa fazer com que se cruzem nossos caminhos, para corrermos por Campos Gramados de novo fazendo ecoar risadas escandalosas de doer a barriga.

Olhei para trás, por cima dos ombros, enquanto saia pela Alameda do portão ao Leste, entre os canteiros de Copos-de-Leite e Mimos-de-Vênus, o que atraía os Beija-Flores. O Sr. Olhar-Que-Escuta-O-Vento acenava como que sinalizando para as brisas daquela confortável manhã, abraçado a Dona Flora, que agora lançava ao ar, tirando de uma cestinha de gravetos, pétalas brancas, amarelas, verdes e azuis. As pétalas, graciosamente, alçavam vôo e se espalhavam, como se cada uma soubesse exatamente onde pousaria seu destino.

Além do portão, não sabia o que me esperava, e ainda não sei. Mesmo agora, não posso dizer ao certo onde estou...

Que esta carta encontre seu caminho como as pétalas de Dona Flora, assim como devem fazer nossos pés.

Teu é meu ar,

Com amor.

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