Saímos a caminho de Jerusalém. A alegria desta época do ano pairava de uma forma diferente, como que esperando, ansiosa, reflexiva e aconchegante. Meu filho perguntou – Papai, o que acontecerá ali? Há tantas coisas que eu ainda não entendi. - Enquanto caminhávamos, contei-lhes novamente sobre Abraão, Isaque e Jacó; relatei alguns feitos dos grandes reis e, por último, narrei a Grande História, de quando ainda nem éramos uma nação, e como escravos, o anjo da morte, na última praga, poupou os primogênitos de nossos pais pela marca do sangue de um cordeiro, praga que fez o poderoso Faraó permitir nosso êxodo, nossa liberdade. Depois de falar-lhes sobre Moisés, a travessia no mar e no deserto, eu disse às crianças – Cuidem do cordeirinho.
Ao chegarmos à cidade, ouvimos rumores estranhos sobre coisas estranhas e, de fato, o povo não cantava, as crianças não sorriam. Toda a atenção estava voltada para o pátio do Procurador, quando, mesmo de uma certa distância, ouvimos os gritos pedindo a sentença – Crucifica-o! Crucifica-o! Para a Cruz! A Cruz!
Tentamos escapar da confusão. Não queríamos fazer parte do que estava para acontecer. Somos pessoas de bem... Se ao menos tivéssemos conseguido chegar ao templo, ofereceríamos os sacrifícios e... Mas quem era aquele homem? Quase todo o colégio sacerdotal se ocupava de acusá-lo. Fiquei imaginando o que fez ele de tão ruim; deveria ter sido uma grande ofensa ao Deus de Israel.
Alguém disse – Lá está Jesus! - Eu não queria acreditar... Um homem tão machucado, o sangue que corria do seu corpo mutilado, a armação de espinhos cravada na fronte, e a cruz... tão pesada. Procurei em seus olhos o brilho fosco deste pecado que incitava a multidão, mas... Eles andavam à caminho do Monte Caveira. E no momento em que caiu... A cruz sobre seu corpo enquanto alguns aplaudiam e outros mostravam pena, piedade e até mesmo aflição. Naquele momento... Acho que eu estava perto demais, e nem me lembro porque cheguei tão perto. E foi naquele momento que, olhando para ele, senti agonia e uma dor profunda. Então o soldado romano gritou – Você! Carregue a cruz! - Eu pensei em resistir, mas ele tinha a espada na mão. Ajoelhei-me, tirei a cruz de sobre seu corpo, levantei-a e ... seu sangue nas minhas roupas... continuei a caminhada levando a arma que levaria aquele homem agonizante, arrastando-se ao meu lado, à morte.
Ao chegarmos ao Calvário, pregaram seus pés, suas mãos, e ergueram a cruz... Naquele momento, na cruz, ele falou – Pai, perdoa os meus irmãos – Eu nunca havia visto tanto amor nos olhos de quem sofre. Ele disse – Está feito – E morreu...
Pasmado por um momento, fiquei sem perceber quando meu filho me abraçou, com o desespero natural das crianças quando cometem algum erro e temem a correção. Chorando, disse-me o mais velho – Papai, nos perdoe, o cordeirinho escapou. - Meu filho perguntou – O que aconteceu aqui? Há tanta coisa que ainda não entendi. - Coloquei-o nos meus braços e, olhando para a cruz, disse à eles – Queridos, lá está o cordeiro, Jesus.
(Texto inspirado em uma canção, que não me lembro o nome, do cantor Júnior.)
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