O trabalho é garimpar nosso cristianismo, tirando as influências das outras cosmovisões, e deixar o ouro do Teísmo Bíblico, depois, responder como esses valores se aplicam à realidade de cada cultura. No Brasil, Maurício José Silva Cunha é um desses. Ele trabalha com a Rede Brasileira de Cosmovisão Cristã e Transformação Integral, e é sócio-fundador do CADI (Centro de Assistência e Desenvolvimento Integral). Fundado em 1994 em Fazenda Rio Grande – PR, o CADI implementa projetos de assistência comunitária, como o Centro de Treinamento de Futebol e a Escola de Educação Infantil, com a visão de desenvolver populações carentes integralmente, de acordo com uma perspectiva bíblica, trabalhando com indivíduos, famílias e comunidades. Ele concedeu a entrevista na sala da hospedagem da agência missionária Jovens Com Uma Missão em Contagem-MG, onde esteve palestrando.
NA - Nesta semana, você falou sobre Cosmovisão Bíblica, nossa identidade como igreja e a abordagem integral do evangelho a respeito da vida. Na prática, como podemos fazer pra implementar essa cosmovisão nas diversas esferas sociais e áreas de influência?
Maurício – Basicamente você transforma um padrão de cosmovisão através do ensino, do discipulado. Os princípios bíblicos abarcam a totalidade da vida, então cabe ao obreiro sábio definir seu chamado específico e buscar pra essa área os princípios de Deus que vão fundamentar uma ação missionária transformadora. Por exemplo, se eu sou um educador cristão, preciso saber o que significa ser um educador cristão à luz dos princípios da palavra de Deus. O que significa ensinar geografia ou matemática de modo que isso reflita a pessoa de Deus? Esse é um trabalho árduo. Eu não tenho uma resposta fácil, uma receita. No Brasil nós fundamos a Rede Brasileira de Cosmovisão Cristã e Transformação Integral. A rede é um conjunto de ministérios que estão trabalhando no sentido de formular propostas práticas sobre como aplicar a cosmovisão cristã nas diferentes áreas da sociedade. Há pessoas específicas que estão pensando na política, outros na educação, outros nas artes. O importante é sabermos que a verdade de Deus é aplicável em todas as áreas da vida e que nenhuma área escapa da redenção de Cristo. Agora, como aplicar isso vai depender da área de atuação e do contexto onde você está. O Importante é não termos a mentalidade de um missionário que só vai salvar almas, mas de alguém que busca o discipulado da nação.
NA - Depois de entendermos a verdade de Deus aplicada, por exemplo, à política, contextualizada com a realidade brasileira, como vocês vão articular, como Rede Brasileira de Cosmovisão Cristã, pra fazer a coisa acontecer?
Maurício – Uma coisa que estamos fazendo é produzindo material que vai servir como fundamento pra quem quer trabalhar nessa área, então em julho sai um livro sobre sobre cosmovisão cristã. Depois queremos produzir materiais pra direcionar quem vai trabalhar em diferentes áreas. Na área política, uma das propostas da rede, claro que a longo prazo, é ter uma articulação política mesmo, eleger pessoas que entendem o cristianismo como sistema total de vida e que queiram levar a cosmovisão cristã pra essa área. Não estou falando de proposta partidária, mas de aplicar a cosmovisão cristã no país e tudo o que isso implica. E assim para as outras áreas também. Na área de educação por exemplo, existem alguns ministérios que já estão trabalhando a visão bíblica da educação, como a AECEP (Associação de Escolas Cristãs de Educação por Princípios), a ACSI (Associação Internacional de Escolas Cristãs). Os ministérios começam a se especializar em diferentes áreas da sociedade aplicando os princípios de Deus para aquela área, o que já está acontecendo, e o objetivo da rede é agregar esses ministérios.
NA - Historicamente a igreja sempre esteve atrás do seu tempo. Talvez, quando terminarmos de entender como podemos ser resposta para o homem pós-moderno, outro sistema de crenças esteja em vigor. O que devemos fazer pra não ficarmos correndo atrás do prejuízo e passar a agir como vanguarda?
Maurício – Precisamos acabar com a corrente anti-intelectualista na igreja. É aquela mentalidade: “Ah, não pensa muito não, só creia”. O profeta da nação é um profeta que sabe o que está acontecendo na nação. Esse é um padrão bíblico. Ele conhece o pensamento mundano, conhece o pensamento de Deus e por isso ele pode fazer o confronto. Nós precisamos de pensadores cristãos, mas não a intelectualidade morta, a letra morta. A bíblia fala que os filhos de Issacar foram chamados pra fazer o tabernáculo porque eram conhecedores do seu tempo. Então o cristão sábio, que quer fazer uma diferença, tem que manter um diálogo crítico permanente com sua cultura, tem que discernir que linha de pensamento não vem de Deus. Historicamente nós não temos muito essa tradição por causa desse tipo de mentalidade de que a racionalidade não é importante ou é menos espiritual. Isso não é bíblico. Espero que estejamos formando no Brasil um grupo de pessoas que vão estar de fato na frente do seu tempo, podendo ter esse diálogo crítico com a cultura à luz das escrituras.
NA - A quem são direcionadas as ações pra que isso aconteça, pra toda a igreja ou o foco é a nova geração?
Maurício – Estamos procurando abraçar quem quer. Tem um grupo muito jóia da nova geração que não está mais contente com aquela coisa de ter que ser uma uma pessoa na igreja e outra pessoa na universidade. A esperança é que essa nova geração não vai ter uma mentalidade dicotômica, separando espiritual e secular, e que vai conseguir pensar como levar o cristianismo para a universidade, para a área profissional... Estamos entrando em uma geração que não se contenta mais com aquele avivamento sem propósito, aquela coisa com uma ênfase exagerada na experiência subjetiva. Chegamos em uma hora em que se perguntam: “Então tá! e agora?”.
NA - Qual a pior consequência dessa dicotomia?
Maurício – Nós temos corações salvos, mas mentes babilônicas, mentes confusas, sincretistas. Temos pouco conhecimento da verdade. Temos pessoas com experiências com Deus, eu acredito nisso, pessoas sinceras, mas que não entenderam o cristianismo como sistema total de vida, assim, não temos uma igreja que impacte a sociedade. Temos um monte de gente na igreja, mas ela é muito menos transformadora do que poderia ser. Temos muitas "almas" sendo salvas e isso é bom, mas não temos uma aplicação completa do cristianismo. Pra mim essa é a pior consequência da mente grega, você não permite que a verdade de Deus se manifeste integralmente, apenas uma parte, uma visão estreita das intenções de Deus para o ser-humano.
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3 comentários:
Max, ainda não li toda a entrevista, mas depois leio; vou ter de sair. Mas gostei do que ele diz sobre a mentalidade anti-intelectualista. Desconfie daqueles que pensam que cristão tem de ser ignorante, sentimental, e "crente". E os cristãos de Beréia, que comparavam o que ouviam com a Escritura? A capacidade de indagar, pensar, precisa de resgate integral, ou os poucos a se atreverem a isso dentro da igreja serão sempre os 'rebeldes".
Gravatar sabe que as vezes eu fico imaginando qual seria o impacto do Evangelho puro e simples, sem adições filosóficas e teológicas de qualquer espécie. Simplesmente o Evangelho, sem nada além.
Olá
Só gostaria de informar que a Fazenda Rio Grande fica no Paraná... exatamente 30 minutos de Curitiba.
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